15 dias antes do
solstício de verão 1556 d.K.
Chovia bastante na fazenda de
Brodden, que já estava preocupado com a imensa quantidade de água que caíra e
caía sobre sua plantação. Foi nesse momento, no entanto, que sua situação, a
priori ruim, piorou.
Sendo puxada por dois cavalos
guiados por dois homens altos e magros, apareceu no horizonte, se aproximando
aos poucos, uma carruagem vermelha muito bem adornada. Os dois homens eram os
famosos denniars, soldados reais que utilizavam
túnicas de cor vermelha com um traço branco que ia do ombro direito até a parte
esquerda da cintura, usavam seus tradicionais capacetes cônicos, que cobria o
nariz (possuíam um anasal prolongado) e toda a cabeça, com exceção da região
das narinas, da boca e do queixo. No topo da carruagem, tremulando, a bandeira
de Terra per Timorem, em um fundo
vermelho com uma listra branca que vai o canto superior direito até o inferior
esquerdo, em que o tradicional dragão dourado se ressaltava.
Da carruagem desceu um dos famosos encarregados, pessoas a quem a população
temia, sabendo que, quando apareciam, era quase certo que seria para anunciar
algo nada bom – alistamento forçado, aumento de impostos, confisco de
propriedades e recursos, entre outros. Seu nome era Leif: velho, baixo, quase
totalmente careca e com bigode e uma reminiscência de cabelos brancos, trajava
a roupa típica dos encarregados – um uniforme de oficial de exército vermelho,
com diversos distintivos e honras, além de calça preta presa em botas, também
pretas.
- Bom dia, senhor Brodden. – falou
em seu tom sempre afável e calmo Leif.
-Bom dia, senhor Leif. O que traria
a vossa presença para essa humilde fazenda?
- Como o senhor bem deve saber, estamos
no meio de uma guerra. E precisamos de “doações”. – falou o encarregado,
frisando a palavra “doações”.
- Com todo o respeito ao senhor e à
Coroa, devo lembrar-lhe que a guerra que enfrentamos contra a Vernânia não é do
meu interesse. Foi algo feito pelo rei, e pelos interesses do rei.
- Isso não é verdade, senhor Brodden!
Os interesses do nosso divino rei são os interesses de toda nossa nação! É ele
quem protege nossas terras dos infames estrangeiros e dos desordeiros que
residem em nosso próprio país! – explanou Leif em um tom mais energético,
embora ainda afável.
- Então, sendo inevitável conversar
sobre esse assunto, o senhor não gostaria de tomar uma xícara de café em minha
casa?
- É uma oferta irresistível senhor Brodden.
Irresistível!
Dentro da casa do fazendeiro
Brodden, tudo era calmo, tanto a casa quanto a maioria dos móveis dentro dela
eram de madeira. Sentados à mesa (adivinhe...) de madeira, o plantador de trigo
gritou:
- Carla, por favor, traga um café
para mim e para o senhor encarregado.
- Pode me chamar só de Mark, não há
necessidade para demasiada formalidade. – falou sorrindo Leif.
- Qual é a quantia que a Coroa
deseja de nossa plantação?
- Um pouco súbito... Bem senhor... –
Mark foi interrompido por Carla trazendo café – Que rapidez. Muito obrigado
senhorita. Continuando nosso assunto, imagino que 40% da colheita seria quantia
suficiente.
- Quarenta?! Que absurdo! Senhor
Leif, entendo que nosso país esteja em guerra contra a Vernânia, e entendendo o
quão difícil deve estar sendo para o Rei lutar contra esses desgraçados, mas
necessito da minha colheita para pagar os gastos da minha família! Meu filho
mora em Rine, e pagar suas despesas
não é fácil com uma safra terrível e tendo que pagar impostos exorbitantes.
- Eu sinto lhe informar que o
pagamento dos impostos à Coroa não é algo negociável. O rei Frederick IX
necessita urgentemente de dinheiro, para poder pagar seu exército. Ele é formado por pessoas de todo o Trevaso[1],
pessoas que jamais lutariam por nós sem que nós déssemos algo em troca, e por
isso necessitamos de dinheiro, dinheiro para soldados, soldados para lutarem
pela nossa independência, e pela nossa nação.
- Vamos passar então o tributo de 23%
para 30%. É o máximo que posso pagar, senhor Leif.
- Não adianta fazer tais pedidos,
não se discute com a Coroa. A vontade do rei é a vontade divina e a vontade da
nação. Nem mesmo eu tenho poder para fazer concessões. O senhor terá de pagar
os 40%, como o governo determinou. – falou Mark Leif terminando a xícara de
café. – e o senhor sabe o que ocorre com os quais não pagam o que é devido ao
nosso líder, não sabe?
Um clima incômodo se estabeleceu.
Leif arrependeu-se do modo que falou, e tentou consertar:
- Não encare minhas palavras como
uma vil ameaça, só digo a verdade, e o senhor bem sabe disso. Nada posso fazer
na tentativa de negar ordens superiores. Sinto muito, senhor Brodden, mas devo
sair de sua confortável casa e da amigável companhia da vossa senhoria e de vossa
amável esposa. – virando-se para Carla, completou – Saboroso café, senhorita
Carla. Agradeço muito. Se vocês me dão licença, preciso falar com mais alguns
produtores da região, sinto muito em não poder ficar mais nem poder ajudar os
senhores. Acredite, senhor Brodden, não sou eu quem dá as ordens, eu apenas as
cumpro.